
Além da Linha Vermelha
The Thin Red Line
EUA, 1998
Dir.: Terrence Malick
"Antes de ser um filme de guerra, Além da Linha Vermelha é um filme sobre uma condição existencial, uma cujo nome está tão batido quanto "existencialismo" ou "irracionalismo": é um filme sobre a incomunicabilidade. Do homem para o mundo falta coisa demais: Witt volta para o paraíso melanésio e vê seu povo destruído (os nativos têm medo dos recém-chegados, as crianças têm doenças de pele, os velhos brigam entre si, os crânios dos nativos são guardados como lembranças de guerra...); o soldado Bell, que encontra na esposa o abrigo para um lugar tão hostil, vê seu mundo despencar; o coronel têm vergonha de seu filho por ele trabalhar com vendas e não pegar em armas. A figura que Malick faz do homem em Além da Linha Vermelha é herdeira do modernismo mais belo do século XX. O homem é cindido, existe algo (Deus, o inconsciente, o Estado) que pensa por ele. Esse algo, entretanto, está sempre fora do filme. A solução cinematográfica que Malick dá é perfeitamente adequada: o homem tem de buscar seu destino por si mesmo, para finalmente poder morrer com serenidade. Daí um último plano maravilhoso, tal como inúmeros outros ao longo do filme: em meio à água rasa, um pequeno monte de terra dá vida a uma planta, que não é bonita nem feia, mas que tenta sobreviver apesar de tudo. Esse é o perfil dos homens de Malick. Como o soldado amigo de Witt, que ao reembarcar (possivelmente para outra missão, quem sabe) tem os olhares perdidos ao longe. Sozinho." Ruy Gardnier