
A Paixão de Cristo
The Passion of the Christ
EUA, 2004
Dir.: Mel Gibson
"Não tem sentido a acusação de violência quando o próprio tema do filme é expor a consumação pela dor física, pelo castigo imerecido e pela condenação injusta naquilo que foi certamente o fato distintivo dessa história: o auto-sacrifício de Deus encarnado em homem para realizar com eles uma nova aliança. Se todos os povos se julgam descendentes de deuses e nós, pobres ocidentais, somos filhos de um casal desterrado do Jardim do Éden, a boa nova é essa Paixão de Cristo que faz com que Deus venha ao nosso encontro em carne e osso para nos salvar e despertar em nós o sentimento de fraternidade e, sobretudo, de perdão universal. Daí o fato derradeiro e perturbador relativo e esse filme: é que ele foi feito por um católico. Num mundo no qual todos podem ser tudo, esse filme, motivado pela fé, provoca a reação ligada a alguém que não teme ser ou pertencer." Roberto Da Matta
"Cinematograficamente é um «capolavoro». São Tomás diz que não se deve apresentar a verdade com argumentos irrisórios e o filme não é kitsch. Poucas concessões à espetacularidade hollywoodiana. Ao contrário muitos momentos de grande delicadeza. O melhor do filme, sem dúvida, o elemento feminino que o atravessa. Todas as figuras femininas são excepcionais, mas a presença constante da mãe, que acompanha o Filho na via dolorosa, é como um contraponto de ternura à brutalidade dos homens. Não só Maria: também Madalena --a adúltera salva da lapidação por Jesus--, que não pronuncia uma palavra em todo o filme; a mulher de Pilatos, uma esplêndida e delicadíssima Verônica… todas elas constituem uma presença feminina, terna, uma nota lírica em meio do fragor e a violência rude masculina. E um detalhe interessante: se, junto a Cruz, Maria é a co-protagonista deste drama, o demônio é o antagonista. Onipresente, desde o começo em Getsemani até sua derrota total na cruz, inteligentemente representado por uma figura andrógina, sinuosa --não em vão aparece a serpente--, é como a nota dissonante que recorre a partitura da Paixão." Melchor Sánchez de Toca
"Tecnicamente falando, o filme de Gibson é exemplar, caminhando para uma síntese estética de rara harmonia entre forma e conteúdo. Como não é bobo, o cineasta se armou bem. Recuperou a via-crúcis do nazareno amparado na criatividade de um diretor de fotografia habilidoso, Caleb Deschanel, de Muito Além do Jardim (1979) e Os Eleitos (1983), que usa a luz do pintor Caravaggio como referência primeira, de uma alegoria de dor que torna-se barroca num piscar de olhos. A cenografia de Francesco Frigeri, desenhista de produção, só colabora para isso, com riqueza de detalhes na reconstituição espaço-temporal." Rodrigo Fonseca
"As I contemplate Mel Gibson’s The Passion of the Christ, the sequence I keep coming back to, again and again, is the scourging at the pillar. One reason, certainly, is that it is the most horrifying sequence in the film, more agonizing even than the crucifixion itself, or the carrying of the cross. But there are other reasons as well. The sequence is also an outstanding example of Gibson’s original vision of telling the story in the languages of the day, without subtitles. As the Roman centurions flog Jesus, their brutal, laughing mockery and derisive taunts go on for long minutes — and the Latin is left untranslated. We don’t know what they’re saying, and we don’t need to know. Subtitles would be an unnecessary distraction. (...) The Passion of the Christ is not an attempt to depict the sufferings of Christ exactly as described in the New Testament. Rather, while following the basic outline of the passion narratives, the film is an imaginative, at times poetic reflection on the meaning of the gospel story in light of sacred tradition and Catholic theology." Steven D. Greydanus
"Gibson’s archetypal characterizations, from the senselessly brutal laughter of the almost orc-like centurions to the implacable hostility of the Jewish elders, are in the same tradition as the archetypal and grotesque figures in the sometimes graphically violent sacred art of, for example, Matthias Grünewald, Hieronymus Bosch, and Pieter Bruegel the Elder. To complain about the lack of character development and the violent imagery in The Passion is to miss the reality that nuanced characterization is not always the point in all styles of art — indeed, in some styles it can be a distraction — and that blood and gore in art was not invented by Hollywood action movies." Steven D. Greydanus