domingo, fevereiro 04, 2007

#68 - O Desespero de Veronika Voss



O Desespero de Veronika Voss
Die Sehnsucht der Veronika Voss
Alemanha, 1982
Dir.: Rainer Werner Fassbinder

"Se O Desespero de
Veronika Voss não é “apenas” um filme sobre um mal-estar generalizado acerca do mundo, do amor, das relações humanas, etc., mas o grande monumento que é, é porque desde o começo o filme nos instala numa atmosfera nebulosa, em que todos os elementos sugerem que o mundo está fora de seus gonzos, num pesadelo ou num universo paralelo. É o que nos sugere o caráter bigger than life da personagem da atriz Veronika Voss, mas também o terrível complô orquestrado pelos médicos para viciar seus pacientes em morfina e tomar-lhes o dinheiro. Mas, acima de tudo, é o que nos apresenta a majestosa mise-en-scène do filme, volta e meia nos apresentando as imagens através de espelhos, de vidros enfumaçados ou molhados que tornam a cena diáfana, ângulos de câmera inclinados que dão estranheza à imagem, além, claro, do já mencionado poder do branco que parece tudo sufocar (sobretudo nos interiores do casarão da Dra. Marianne, em que naturalmente a opressão é maior), criando um clima ao mesmo tempo muito charmoso (mesmo rarefeitas, as imagens do diretor de fotografia Xaver Schwarzenberger são de uma beleza extraordinária) e decadente (afinal, todo maneirismo é decadentista e coloca o “mundo” em parênteses). Melodrama? Cinema moderno? Fassbinder parece ter sido o único diretor de cinema no mundo a aproveitar todas as potências anti-realistas e extravagantes do melodrama e fazê-lo romper o limiar da representação clássica. O Desespero de Veronika Voss, filiado ao gênero e longe dele, se utilizando tanto de formas convencionais como de formas modernas, naturalista e anti-realista, leva o aparente paradoxo um grau adiante." Ruy Gardnier

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