“O homem vive menos no presente do que no futuro ou no passado. O que, de resto, acontece com todos nós. Nossa vida ignora o presente, a não ser no que se refere aos atos mecânicos da existência cotidiana. O homem vive, seja no passado, sucumbindo ao peso dos remorsos ou da saudade, seja no futuro, preso na trama dos seus projetos ou das suas esperanças. O presente constitui uma partícula mínima das suas preocupações e ela é tanto menor quanto se sabe, depois de [Henri] Bergson, que o presente não existe: que a marcha inflexível do tempo torna passado o instante mesmo em que pronunciamos estas palavras, o segundo em que trocamos um olhar com a pessoa amada, o momento fugitivo em que sorrimos ao amigo. É dessa fuga vertiginosa e irrecuperável, é do surdo desespero dessa destruição permanente, é dessa impossibilidade de viver em que o tempo nos coloca, que Marcel Proust construiu seu romance imortal ["Em busca do tempo perdido"]. O que é verdade no plano filosófico não deixa de sê-lo no plano pragmático da vida mais elementar. Nas condições em que vivemos, na dolorosa instabilidade do mundo moderno, é o futuro que mais nos atormenta, é a vida que vai ser, em lugar da vida que é. Com isso deixamos de viver, por vezes, os mais belos momentos da existência.”
Wilson Martins, em Imagens da França
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Um comentário:
oi henrique, estou fazendo um curso sobre proust e todas estas reflexões sobre o tempo me perseguem... como transformar em eterno o momento fugidio? seu blog está ótimo e sofisticado, só sinto falta das suas palavras, vc só tem colocado citações... sei q vc disse no início q preferia esperar para escrever por si mesmo por ser muito auto-crítico, mas seria muito bom ouvir seus comentários, beijo grande, josiane
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