segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Sobre o tempo

“O homem vive menos no presente do que no futuro ou no passado. O que, de resto, acontece com todos nós. Nossa vida ignora o presente, a não ser no que se refere aos atos mecânicos da existência cotidiana. O homem vive, seja no passado, sucumbindo ao peso dos remorsos ou da saudade, seja no futuro, preso na trama dos seus projetos ou das suas esperanças. O presente constitui uma partícula mínima das suas preocupações e ela é tanto menor quanto se sabe, depois de [Henri] Bergson, que o presente não existe: que a marcha inflexível do tempo torna passado o instante mesmo em que pronunciamos estas palavras, o segundo em que trocamos um olhar com a pessoa amada, o momento fugitivo em que sorrimos ao amigo. É dessa fuga vertiginosa e irrecuperável, é do surdo desespero dessa destruição permanente, é dessa impossibilidade de viver em que o tempo nos coloca, que Marcel Proust construiu seu romance imortal ["Em busca do tempo perdido"]. O que é verdade no plano filosófico não deixa de sê-lo no plano pragmático da vida mais elementar. Nas condições em que vivemos, na dolorosa instabilidade do mundo moderno, é o futuro que mais nos atormenta, é a vida que vai ser, em lugar da vida que é. Com isso deixamos de viver, por vezes, os mais belos momentos da existência.”

Wilson Martins, em Imagens da França

Um comentário:

Anônimo disse...

oi henrique, estou fazendo um curso sobre proust e todas estas reflexões sobre o tempo me perseguem... como transformar em eterno o momento fugidio? seu blog está ótimo e sofisticado, só sinto falta das suas palavras, vc só tem colocado citações... sei q vc disse no início q preferia esperar para escrever por si mesmo por ser muito auto-crítico, mas seria muito bom ouvir seus comentários, beijo grande, josiane