sábado, maio 26, 2007
Vossos olhos belos
Camões
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.
Assi que alma, que vida, que esperança,
E que quanto for meu, é tudo vosso;
Mas de tudo o interesse eu só o levo;
Porque é tamanha bem-aventurança,
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
*
#36 - Rosas Selvagens

Les Roseaux Sauvages
França, 1994
Dir.: André Téchiné
"Les Roseaux sauvages est, sans nul doute, le film le plus personnel que Téchiné ait tourné depuis longtemps. Et le plus réussi. On le sent libre. Libre d’oser. Oser, par exemple (et là, on est en plein opéra!) faire apparaître le fantôme d’un soldat tué en Algérie à celle qui se sent responsable de sa mort (un peu comme Lambert Wilson, renversé par une voiture, ne cessait de hanter la vie de Juliette Binoche dans Rendez-vous). Oser cette séquence qui rappelle les plus belles audaces de la Nouvelle Vague où François, qui a appris que le marchand de chaussures est, selon son expression, un « inverti », s’en va, parce qu’il n’a plus rien à perdre, parce qu’il est prêt à tout, lui demander conseil […] Il y a, dans Les Roseaux sauvages, les moments de grâce infinie, les envolées brutales et les emportements furieux de l’adolescence. Il y a le monde des adultes, symbolisé par deux professeurs également coupables : l’une de ne pas douter assez, l’autre de douter trop." Pierre Murat, Télérama, 01/06/94
#37 - Nosferatu, O Vampiro da Noite

Nosferatu, O Vampiro da Noite
Nosferatu, Phantom der Nacht
Alemanha, 1979
Dir.: Werner Herzog
"Ce Nosferatu, plus qu'un prédateur, est avant-tout la proie d'un destin qui ne lui a jamais laissé connaître ni l'amour ni la mort. Sa mort ressemble donc à un suicide dans les bras du plaisir. Conséquemment, ce vampire est surtout plus humain que son prédécesseur. Son cadavre recroquevillé en est l'ultime preuve là où le vampire de Murnau disparaissait en cendres. Dans un dernier clin d'oeil, le chasseur de vampires arrive trop tard, comme pour confirmer que le comte avait choisi son propre destin. A la réalisation exceptionnelle, s'ajoutent les superbes interprétations tourmentées de Klaus Kinski totalement en contrôle de ses émotions et d'Isabelle Adjani, une beauté glacée qui se sait condamnée. En s'abreuvant de l'essence d'un classique, Werner Herzog, a assuré dans un ultime acte de vampirisme, la survie d'un mythe." Fred Thom
#38 - Intendente Sansho

Sansho dayu
Japão, 1954
Dir.: Kenji Mizoguchi
"When Zushio arrives as Sado in search of his mother, he is told that she has either jumped from the cape into the ocean (presumably from the spot where we have seen her sing her song of longing) or was engulfed by a recent tidal wave along with many others. Zushio's quest culminates at the shores of the great sea, where all rivers eventually lead. "You have followed the natural course" -- his father's path -- and it has led him to manhood and to reunion with his family. Mizoguchi's camera rises from this intensely, almost unbearably emotional scene to gaze out past mother and son at the now-tranquil sea. One senses in the deep waters which fill the horizon the presence of the entire family in the same frame-space -- Anju, Father, the nurse. The camera turns, peering down at the tiny figure of the man harvesting seaweed on the vast beach. In the aftermath of the tidal wave, out of that oceanic graveyard which envelops most of the earth, he gathers the food, and fertilizer, necessary for those who carry on in 'this transient life'." Jim Emerson
domingo, maio 13, 2007
#39 - Os Guarda-Chuvas do Amor

Les Parapluies de Cherbourg
França, 1964
Dir.: Jacques Demy
"Voilà certes une Palme d'or des plus controversées, tantôt admirée par les tenants d'une certaine nouveauté cinématographique, de la romance-bonbon et de la belle musique, tantôt rejetée tel un déchet par les intellectuels en mal de complexité et de déconstruction narrative!!! Et puis pourquoi pas… Pourquoi ne pas attribuer la Palme d'or à un film "grand public", où la romance à l'eau de rose déploie sa magnificence au son du lyrisme échevelé d'un Michel Legrand en pleine possession de ses moyens. La peinture a eu ses Fragonard, Bouguereau et Watteau… la musique ses Tchaïkovski et Rachmaninov. En 1964, le "cinéma-pompier" triomphe sur les écrans grâce à Jacques Demy et ses Parapluies de Cherbourg . Pour tous ceux et celles qui acceptent les conventions de la comédie musicale, mais aussi son renouveau (tous les dialogues du film sont chantés d'un bout à l'autre), ce film hautement décoratif tient du plus exquis des délices. Ce n'est sûrement pas son sujet qui l'a fait passer à l'histoire. Mais on n'oubliera pas de sitôt sa direction artistique et ses incroyables couleurs, où le papier peint des murs s'harmonise à la perfection aux vêtements des personnages. C'en est presque trop, au point où on en rit à certains moments. Mais il y a le jazz enivrant de Legrand et son non moins célèbre Non, je ne pourrai jamais vivre sans toi , qui nous rattrapent au détour. Et surtout la grande Catherine Deneuve, encore toute jeune à l'époque, et qui était pratiquement une inconnue. S'appropriant la voix sublime de Danielle Licari, elle est toujours bouleversante lorsque, sur le quai d'une gare et le visage en larmes, elle assiste au départ de son amoureux pour la guerre." Louis Goyette
domingo, abril 22, 2007
#40 - Além da Linha Vermelha

Além da Linha Vermelha
The Thin Red Line
EUA, 1998
Dir.: Terrence Malick
"Antes de ser um filme de guerra, Além da Linha Vermelha é um filme sobre uma condição existencial, uma cujo nome está tão batido quanto "existencialismo" ou "irracionalismo": é um filme sobre a incomunicabilidade. Do homem para o mundo falta coisa demais: Witt volta para o paraíso melanésio e vê seu povo destruído (os nativos têm medo dos recém-chegados, as crianças têm doenças de pele, os velhos brigam entre si, os crânios dos nativos são guardados como lembranças de guerra...); o soldado Bell, que encontra na esposa o abrigo para um lugar tão hostil, vê seu mundo despencar; o coronel têm vergonha de seu filho por ele trabalhar com vendas e não pegar em armas. A figura que Malick faz do homem em Além da Linha Vermelha é herdeira do modernismo mais belo do século XX. O homem é cindido, existe algo (Deus, o inconsciente, o Estado) que pensa por ele. Esse algo, entretanto, está sempre fora do filme. A solução cinematográfica que Malick dá é perfeitamente adequada: o homem tem de buscar seu destino por si mesmo, para finalmente poder morrer com serenidade. Daí um último plano maravilhoso, tal como inúmeros outros ao longo do filme: em meio à água rasa, um pequeno monte de terra dá vida a uma planta, que não é bonita nem feia, mas que tenta sobreviver apesar de tudo. Esse é o perfil dos homens de Malick. Como o soldado amigo de Witt, que ao reembarcar (possivelmente para outra missão, quem sabe) tem os olhares perdidos ao longe. Sozinho." Ruy Gardnier
#41 - A Doce Vida

#42 - Lola Montès

Lola Montès
sábado, abril 14, 2007
#43 - Desencanto

sábado, abril 07, 2007
sexta-feira, abril 06, 2007
Sermão sobre o jejum
Mas como a salvação de nossas almas não é conquistada apenas pelo jejum, completemo-lo pela misericórdia para com os pobres. Seja abundante em generosidade o que retiramos ao prazer; que a abstinência dos que jejuam reverta para o alimento dos pobres. Pensemos na defesa das viúvas, no socorro dos órfãos, na consolação dos que choram, na paz aos revoltosos. Que o peregrino seja recebido, que o oprimido seja ajudado, que o nu seja vestido, que o doente seja curado, a fim de que, todos os que oferecerem o sacrifício de nossa piedade, por estas boas obras, a Deus, autor de todos estes bens, mereçam receber Dele, o prêmio do Reino Celeste.
Sermão sobre o jejum, de São Leão Magno.
quinta-feira, abril 05, 2007
Idealmente feliz
Escute: estou idealmente feliz. Minha felicidade é uma espécie de desafio. Ao vagar pelas ruas, pelas praças, pelos caminhos ao longo do canal, sentindo distraidamente os lábios da umidade através de minhas solas gastas, carrego com orgulho essa felicidade inefável. Os séculos hão de desfilar, os estudantes bocejarão lendo a história de nossos cataclismos; tudo passará, mas minha felicidade, querida, minha felicidade irá permanecer, no reflexo úmido de um lampião, na curva cautelosa dos degraus de pedra que descem até as águas negras do canal, nos sorrisos dos pares a dançar, em tudo aquilo com que Deus circunda tão generosamente a solidão humana.
A Carta que Nunca Chegou à Rússia (Detalhes de um Pôr-do-Sol - Details of a Sunset and other stories), de Vladimir Nabokov. Trad. Jorio Dauster. Companhia das Letras.
Na pedra dum sepulcro
Gonçalves Dias
Sumiu-se além o sol envolto em raios,
E do lado fronteiro a branca lua
Levanta a fronte pálida entre montes,
E nas águas do límpido regato
Estampa a face inteira.
E eu irei sentar-me junto às margens
Do límpido regato;
Irei cismar sozinho, a sós co'a noite,
Nas minhas penas cruas.
Quero sentir da tarde o fresco orvalho
Nos meus cabelos;
Quero escutar nas folhas o sussurro
Da mansa brisa;
Quero escutar o som da linfa clara
Por sobre as pedras;
Quero escutar do pássaro o gemido
De sob as ramas;
Quero vê-la também, que há tempos ando
Cismando nela,
Que há tempos sempre a encontro triste e muda
Junto à ribeira.
Ei-la sentada ali entre os salgueiros,
Pálida a fronte,
Loiros cabelos sobre a testa ebúrnea
Cândida a veste.
Anjo - encanto - mulher, que és tu na terra?
Quem n'alma te gravou cismar tão triste?
Tão triste palidez quem te há gravado
No semblante formoso?
Oh! se minha alma aflita inda prazeres
Sentir pudesse - se inda amar pudesse,
Se os meus olhos pisados não vertessem
A fio agora corrente;
Anjo - encanto - mulher, foras meu nume,
Foras meu sangue, meu prazer, minha alma,
Minha estrela d'amor, meu anjo e vida,
Pensamento e querer.
Na flor da mocidade, quando a vida
Por entre flores, recendendo aromas,
Risonha e festival, sem medo corre
D'agoireiro futuro;
Por que em vez de nutrir brandos amores
Definhas sem brilhar em festa, em jogos,
Sem um meigo sorrir nos curtos lábios,
Sem cor nas alvas faces?
Anjo - encanto - mulher, por que o teu pranto
Corre agora espontâneo sobre as águas
Do límpido regato, como lágrimas
De náiade gentil?
Por que choras assim? - Traída amante,
Vens de enganado amor as penas cruas
Curtir na soledade?
Mas quem tão negro feito perpretara?
Quem há que, se os teus olhos lhe sorrissem,
Não morrera de amores?
Não o fizera, não, - que tal façanha
Não a faz coração d'homem, que sente,
Que vê tais graças;
Que visse uma só vez, qual vejo agora,
Co'as estrelas do céu pleitear brilho
Teus olhos tão mimosos.
Morreu-te acaso a mãe? - Erma e sozinha,
Vens d'amor filial durante a noite
Pagar tributo amargo?
Mas ei-la que ali vem, terna, ansiada
Por te ver, por te ouvir, por esse pranto
Secar co'um doce beijo.
Ah! chora sempre e sempre; - corre o pranto
Espontâneo e fagueiro nessa idade,
Como orvalho da noite;
Enquanto o mau blasfema, o bom soluça,
Alma do céu, folga em chorar sozinha
Neste exílio da terra.
Ah! chora sempre e sempre, que esse pranto
No seio maternal hoje se entorna,
Que não em terra sáfara;
Doido por muito amar, por ser amado,
Gentil mancebo há de amanhã sorver-t'o
Num ósculo de amor.
Mas eu quando em silêncio as fontes abro
Deste meu coração, embalde os lábios
- Donzela ou mãe - soluçam;
Pelo meu rosto em fio se desliza
Meu triste pranto, e alvíssimo se expande
Na pedra dum sepulcro.
Trop près des cieux
Augustine mit un doigt sur ses lèvres pâlies, comme pour implorer de sa mère un moment de silence. Pendant cette terrible nuit, le malheur lui avait fait trouver cette patiente résignation qui, chez les mères et chez les femmes aimantes, surpasse, dans ses effets, l'énergie humaine et révèle peut-être dans le coeur des femmes l'existence de certaines cordes que Dieu a refusées à l'homme.
Une inscription gravée sur un cippe du cimetière Montmartre indiquait que madame de Sommervieux était morte à vingt-sept ans. Un poète, ami de cette timide créature, voyait, dans les simples lignes de son épitaphe, la dernière scène d'un drame. Chaque année, au jour solennel du 2 novembre, il ne passait jamais devant ce jeune marbre sans se demander s'il ne fallait pas des femmes plus fortes que ne l'était Augustine pour les puissantes étreintes du génie.
- Les humbles et modestes fleurs, écloses dans les vallées, meurent peut-être, se disait-il, quand elles sont transplantées trop près des cieux, aux régions où se forment les orages, où le soleil est brûlant.
La Maison du Chat-qui-Pelote (La Comédie Humaine - Études de Moeurs - Scènes de la Vie Privée), de Honoré de Balzac
domingo, março 25, 2007
A Montanha Mágica, de Thomas Mann
É assim que Wilson Martins caracteriza o romanesco, no livro Imagens da França. Acabo de ler A Montanha Mágica, de Thomas Mann, e esse calhamaço de mil páginas, de fato, traz algo do espírito que dominou o início do século XX na Europa. É a sensação do mal-estar antes da tragédia - no caso, a Primeira Guerra Mundial. Os sete anos de internação do jovem Hans Castorp num sanatório nos Alpes suíços são marcados por esse mal-estar que culmina na luta, na ausência de diálogo, na perplexidade ante a perda de valores que nortearam o povo europeu durante séculos.
Ouso dizer, entretanto, que, apesar de ser um livro interessante nesse aspecto da representação do espírito de uma geração, A Montanha Mágica não é um grande romance. Ele carece de virtudes essenciais do bom romance, aquelas virtudes em que Balzac e Walter Scott eram mestres. O maior defeito do livro é a falta de ritmo; muitas de suas páginas sofrem de um mal sobre o qual o próprio livro discorre: o tédio. Há muitas passagens tediosas no meio daquelas mais marcantes. Faltou a Mann a humildade e a coragem para depurar a história, aparando-lhe o desnecessário.
A propósito do autor alemão, Otto Maria Carpeaux escreveu, e eu assino embaixo:
"Na verdadde, Thomas Mann é um pensador confuso, é o maior dos escritores de segunda ordem, e a alemanidade não é a essência do seu ser, mas o amor infeliz dum bastante fraco herói de tragédia. Nos romances de Thomas Mann há muitas discussões e muitas reflexões; o leitor desprevenido abre a boca, sufocado sob enormes massas de pensamentos. Mas não há pensamento; em particular, nenhum pensamento original. (...) Não sendo pensador original ou claro, Mann é um grande manejador de pensamentos, o que é a primeira condição do ensaísta. Thomas Mann é um admirável ensaísta. Apenas, é preciso saber que um ensaísta não é um causeur engraçado, mas um escritor sério, cujo pensamento torturado é transfigurado por um raio de poesia. (...) Mann é muito pobre em imaginação, (...) o maior escritor de uma época artificial e decadente, (...) não conhece metafísica nenhuma. (...) Durante toda a longa vida laboriosa, não passou de um pensador confuso." (Ensaios Reunidos - 1942-1978. Org. Olavo de Carvalho)
É um julgamento duro, mas que se há de fazer? A Montanha Mágica é um romance falhado. Não tem o impacto da obra-prima de Mann, a novela Morte em Veneza. Falta-lhe o "raio de poesia" de que fala Carpeaux. Talvez Mann tenha falhado por soberba, pois talento não lhe faltava, como comprova essa linda e dolorosa passagem, na qual os primos Hans Castorp e Joachim Ziemssen passeiam acompanhados de Karen Karstedt, jovem franzina de dezenove anos, muito doente, nos últimos dias de vida:
Subiam lentamente, em fila indiana, porque a trilha aberta a pá não permitia irem lado a lado. Deixando atrás e abaixo as mais altas das casas construídas na vertente, olhavam, enquanto subiam, a paisagem familiar na sua magnificência invernal, que mais uma vez se deslocava na perspectiva e lhes abria um outro aspecto. Dilatava-se rumo ao nordeste, em direção à entrada do vale. Surgia a esperada vista do lago circular, rodeado de bosques, congelado e coberto de neve. Atrás da sua margem oposta, os planos inclinados das montanhas pareciam encontrar-se no solo, e mais além assomavam cumes desconhecidos, sobrelevando uns aos outros, diante do céu azul. Os três contemplaram tudo isso, detendo-se na neve, em frente ao portão de pedra que dava acesso ao cemitério. A seguir entraram, abrindo os batentes de ferro, que estavam simplesmente encostados.
Também no interior acharam trilhas limpas de neve, que passavam por entre as elevações dos túmulos cercados de grades e estufados de neve, esses leitos bem-dispostos e simétricos, com suas cruzes de pedra ou de metal, e com seus pequenos monumentos adornados de medalhões e dísticos. Não se ouvia nem se via ninguém. A calma, o isolamento, a paz do lugar pareciam profundos e íntimos em muitos sentidos. Um anjinho ou menino de pedra, com um boné de neve colocado obliquamente na cabeça, quedava-se em alguma parte no meio das moitas e fechava os lábios com um dedo; podia passar pelo gênio do lugar, quer dizer, o gênio do silêncio, de um silêncio que se afigurava nitidamente como a negação e o antípoda da palavra falada, como um ato de emudecer, portanto, mas absolutamente não era desprovido de conteúdo ou de vida. Para os dois visitantes do sexo masculino aquela seria sem dúvida uma ocasião de tirar os chapéus, se os tivessem levado. Mas, já que andavam descobertos - também Hans Castorp passara a fazê-lo -, limitaram-se a uma atitude reverente, caminhando com o peso do corpo sobre as pontas dos pés e fazendo uma espécie de pequenas mesuras para os lados, enquanto seguiam, em fila indiana, Karen Karstedt, que conduzia o cortejo.
A forma do cemitério era irregular. Começava por estender-se num retângulo estreito em direção ao sul, para depois ampliar-se em dois sentidos, por meio de outros retângulos. Evidentemente se haviam feito necessários repetidos aumentos, tendo sido acrescentadas partes dos campos vizinhos. Mesmo assim, o recinto parecia novamente ocupado na sua quase totalidade, ao longo dos muros tanto como na zona interior, menos apreciada em geral. Era difícil assinalar um lugar onde mais alguém, em caso de emergência, pudesse ser enterrado. Discretamente, os três companheiros caminharam durante longo tempo pelas estreitas trilhas e corredores, entre as sepulturas. Estacavam, de vez em quando, para decifrar um nome com as respectivas datas de nascimento e de morte. As pedras sepulcrais e as cruzes eram simples e demonstravam pouco aparato. No que toca às inscrições, os nomes eram das origens mais diversas: havia ingleses, russos ou ao menos esavos, mas também alemães, portugueses e outros. As datas, porém, contavam uma história delicada; o intervalo que separava uma da outra era geralmente de extraordinária brevidade; o número de anos decorridos entre o nascimento e o exitus elevava-se, na média, a vinte ou pouco mais; muita juventude e pouca gente sisuda povoava o acampamento, um povo volúvel que viera aqui de todas as partes do mundo e se adaptara definitivamente à existência horizontal.
Em determinado lugar, entre a multidão de jazigos, no interior do campo-santo, quase no seu centro, encontraram um pedacinho de terra ainda rasa, do comprimento de um homem deitado, um pedacinho desocupado, entre dois túmulos em cujas pedras estavam penduradas coroas de perpétuas. Detiveram-se ali, a moça um passo à frente dos seus companheiros, e leram as tristes inscrições gravadas nas pedras, Hans Castorp numa atitude de abandono, com as mãos entrelaçadas, a boca aberta e os olhos sonolentos; o jovem Ziemssen em posição de sentido, não somente ereto, mas até um pouco inclinado para trás. E ambos os primos, possuídos de uma curiosidade simultâneas, lançaram um olhar de esguelha para o rosto de Karen Karstedt. Ela percebeu, apesar de toda a discrição, e deixou-se ficar ali, acanhada e humilde, com a cabeça avançada um tanto obliquamente. Com os olhos piscando nervosamente, esboçou um sorriso forçado.
A Montanha Mágica (Der Zauerberg), de Thomas Mann. Tradução de Herbert Caro. Editora Nova Fronteira.
#44 - A Lenda dos Beijos Perdidos

"A classic - if not the classic - Minnelli musical, Brigadoon is an explicit statement about (and partial criticism of) the notion that an artist only lives through his art, preferring its reality to the world's. The film begins with a disenchanted Kelly in flight from 'civilised' New York, lost in the Scottish Highlands and stumbling on the legendary village of Brigadoon which only appears for one day each century. There he meets the love of his life Fiona (Charisse), only to discover both the truth about Brigadoon and that some of its inhabitants want the real life he is fleeing from, even though it will destroy Brigadoon. Disillusioned when the villagers kill the would-be escapees, Kelly leaves. But in New York, amidst the chaos of modern living, he discovers he is yearning for Fiona and Brigadoon. He returns to Scotland where his faith (and Fiona's love) conjures up Brigadoon. This time he settles there, accepting that the price of happiness is to live but one day a century. As this description of the film makes clear, it (and Minnelli's musicals in general) is escapist to say the least. However, Minnelli's musicals must be seen alongside his dramas which examine the other side of the coin, the problems of confronting reality, rather than evading it or constructing one's own." Time Out
#45 - Laura

#46 - Chinatown

#47 - Branca de Neve e os Sete Anões

#48 - O Joelho de Claire

Le Genou de Claire
França, 1971
Dir.: Eric Rohmer
"Muito mais criar ambiências com a luz do que utilizá-la para recortar objetos e rostos. Como esquecer da mágica cor das tardes ociosas em frente ao mar de O Joelho de Claire (...)? O cinema de Eric Rohmer lida primeiramente com a instalação da câmera em um espaço, e apenas posteriormente com os comportamentos e as falas dos personagens. A presença bruta, pujança do espaço real físico faz sempre petição de princípio em relação às tramas, às intrigas, às evoluções e circunvoluções da narrativa". Ruy Gardnier, Contracampo
#49 - As Três Noites de Eva

Lady Eve
EUA, 1941
Dir.: Preston Sturges
"Preston Sturges’ The Lady Eve is some kind of great movie. And yet, like most of the best Hollywood movies of its time, its emotional range is narrow, it makes almost no pretensions to observation of American life or to social satire, its characterization is almost nil and its conflicts a clash of stereotypes. It is, in short, “classic” Hollywood and so has none of the features by which we are accustomed to recognize serious art or dramaturgy. And yet it can surely be argued from the experience of this wonderfully funny movie that its effect on us is somehow serious—that it has the richness, completeness, and resonance by which we recognize something fully and seriously done, whether we can explain it or not—and no one has yet quite accounted for or settled on a way of explaining the power and force, the peculiar beauty of the Hollywood studio film at its best." James Harvey, Criterion Collection
sábado, março 17, 2007
Melhores do cinema em 2006
10 MELHORES FILMES
1. O Novo Mundo (The New World - EUA, dir. Terrence Malick)

2. 2046 - Os Segredos do Amor (2046 - Hong Kong, dir. Wong Kar-wai)

3. O Último Mitterrand (Le Promeneur du Champ de Mars - França, dir. Robert Guédiguian)

4. Miami Vice (Miami Vice - EUA, dir. Michael Mann)

5. Saraband (Saraband - Suécia, dir. Ingmar Bergman)

6. Eleição - O Submundo do Poder (Hak Se Wui - Hong Kong, dir. Johnnie To)

7. A Dama de Honra (La Demoiselle d'Honneur - França, dir. Claude Chabrol)

8. Missão Impossível 3 (Mission Impossible 3 - EUA, dir. J. J. Abrams)

9. Os Infiltrados (The Departed - EUA, dir. Martin Scorsese)

10. Espelho Mágico (Espelho Mágico - Portugal, dir. Manoel de Oliveira)

DIRETOR
Wong Kar-wai (2046 – Os Segredos do Amor)
Ingmar Bergman (Saraband)
Johnnie To (Eleição – O Submundo do Poder)
Michael Mann (Miami Vice)
Terrence Malick (O Novo Mundo)
ATOR
Michel Bouquet (O Último Mitterrand)
Benoît Magimel (A Dama de Honra)
Colin Farrell (O Novo Mundo)
Erland Josephson (Saraband)
Tony Leung (2046 – Os Segredos do Amor)
ATRIZ
Valeria Bruni Tadeschi (O Amor em 5 Tempos - 5x2 - França)
Leonor Silveira (Espelho Mágico)
Liv Ullmann (Saraband)
Natasha Richardson (A Condessa Branca - The White Countess - Inglaterra)
Q'Orianka Quilcher (O Novo Mundo)
ATOR COADJUVANTE
Frank Langella (Boa Noite e Boa Sorte - Good Night and Good Luck - EUA)
Börje Ahlstedt (Saraband)
Jack Nicholson (Os Infiltrados)
Jalil Lespert (O Último Mitterrand)
Walid Afkir (Caché)
ATRIZ COADJUVANTE
Julia Dufvenius (Saraband)
Juliette Binoche (Caché)
Marisa Paredes (Espelho Mágico)
Michelle Williams (O Segredo de Brokeback Mountain)
Zhang Ziyi (2046 - Os Segredos do Amor)
ROTEIRO
Saraband
A Dama de Honra
Eleição - O Submundo do Poder
Espelho Mágico
O Último Mitterrand
FOTOGRAFIA
2046 - Os Segredos do Amor
Eleição - O Submundo do Poder
Miami Vice
O Novo Mundo
Saraband
MONTAGEM
Eleição - O Submundo do Poder
A Dama de Honra
Miami Vice
O Último Mitterrand
Vôo United 93
SOM
Miami Vice
A Dama na Água
2046 - Os Segredos do Amor
Missão Impossível 3
O Novo Mundo
USO DE MÚSICA
A Dama de Honra
A Dama na Água
2046 - Os Segredos do Amor
O Novo Mundo
O Segredo de Brokeback Mountain
PIOR FILME
Crash - No Limite (Crash - EUA, dir. Paul Haggis)
Bálsamo santo
Gonçalves Dias
Revela tanto amor, tão branda soa
A tua doce voz canora e pura,
Que o homem de a escutar sente no peito
Infiltrar-se-lhe um raio de ventura.
Solta-se a alma das prisões terrenas,
O mundo, a vida, o sofrimento esquece,
E embalada n'um éter deleitoso,
Como Alcion nas águas, adormece!
Da noite a placidez é menos grata
A quem sozinho e taciturno vela,
Quando, perdido n'outros mundos, nota
A meiga luz de fugitiva estrela.
Sensações menos doces, menos vagas,
Desperta o barco leve, que se avista
Ao pôr-do-sol, na extrema do horizonte
Quando n'um mar de luz nos foge à vista.
Das aves o cantar é menos fresco,
É menos triste a fonte que serpeia,
Menos queixoso o mar que enternecido
Beija na praia a cintilante areia.
Vagas na terra, suspiroso arcanjo,
Derramando torrentes de harmonia
Sobre as chagas mortais, - bálsamo santo
Que as mais profundas mágoas alivia.
Vagas na terra, merencória e bela;
Mas quando deste mundo ao céu tornares
Juntarás teus terníssimos acentos
Aos puros sons dos místicos altares.
E os anjos na mansão das harmonias,
Encostados às harpas diamantinas,
Folgarão de te ouvir celestes carmes
Deduzidos em notas peregrinas.
E dirão: - Nunca às plagas do infinito
Subiu mais terna voz, mais fresca e pura!
Se o corpo é de mulher, sua alma é vaso
Onde o incenso de Deus se afina e apura.
No silêncio achar consolo
Gonçalves Dias
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua;
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus;
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
O que espero, cobiço, almejo, ou temo
De ti, só de ti pende: oh! nunca saibas
Com quanto amor eu te amo, e de que fonte
Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo!
Esta oculta paixão, que mal suspeitas,
Que não vês, não supões, nem te eu revelo,
Só pode no silêncio achar consolo,
Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.
*
De mim não saberás como te adoro;
Não te direi jamais,
Se te amo, e como, e a quanto extremo chega
Esta paixão voraz!
Se andas, sou o eco dos teus passos;
Da tua voz, se falas;
O murmúrio saudoso que responde
Ao suspiro que exalas.
No odor dos teus perfumes te procuro,
Tuas pegadas sigo;
Velo teus dias, te acompanho sempre,
E não me vês contigo!
Oculto e ignorado me desvelo
Por ti, que me não vês;
Aliso o teu caminho, esparjo flores,
Onde pisam teus pés.
Mesmo lendo estes versos, que m'inspiras,
"Não pensa em mim", dirás:
Imagina-o, se o podes, que os meus lábios
Não to dirão jamais!
*
Sim, eu te amo; porém nunca
Saberás do meu amor;
A minha canção singela
Traiçoeira não revela
O prêmio santo que anela
O sofrer do trovador!
Sim, eu te amo; porém nunca
Dos lábios meus saberás,
Que é fundo como a desgraça,
Que o pranto não adelgaça,
Leve, qual sombra que passa,
Ou como um sonho fugaz!
Aos meus lábios, aos meus olhos
Do silêncio imponho a lei;
Mas lá onde a dor se esquece,
Onde a luz nunca falece,
Onde o prazer sempre cresce,
Lá saberás se te amei!
E então dirás: "Objeto
Fui de santo e puro amor:
A sua canção singela;
Tudo agora me revela;
Já sei o prêmio que anela
O sofrer do trovador.
"Amou-me como se ama a luz querida,
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfume e vida,
Os pais e a pátria, e a virtude e a Deus!"
Recordação
Gonçalves Dias
Quando em meu peito as aflições rebentam
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada,
Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor, piedade! - e os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d'angústias que meu peito oprime.
Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos
Sorvendo meus ouvidos -, nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastará ainda
Porque de os ver me saciasse!... O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. - Em tal pensando,
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.
sábado, fevereiro 24, 2007
#50 - A Paixão de Cristo

#51 - Fúria Sanguinária

White Heat
EUA, 1949
Dir.: Raoul Walsh
"White Heat is an entertaining, fascinating and hypnotic portrait of a flamboyant, mother-dominated and fixated, epileptic and psychotic killer, who often spouts crude bits of humor. The dynamic film, with both film noir and documentary-style elements, is characterized by an increased level of violence and brutality along with classical Greek elements." Tim Dirks, Filmsite
#52 - Sete Noivas para Sete Irmãos

#53 - A General

"Today I look at Keaton's works more often than any other silent films. They have such a graceful perfection, such a meshing of story, character and episode, that they unfold like music. Although they're filled with gags, you can rarely catch Keaton writing a scene around a gag; instead, the laughs emerge from the situation; he was ``the still, small, suffering center of the hysteria of slapstick,'' wrote the critic Karen Jaehne. And in an age when special effects were in their infancy, and a ``stunt'' often meant actually doing on the screen what you appeared to be doing, Keaton was ambitious and fearless. He had a house collapse around him. He swung over a waterfall to rescue a woman he loved. He fell from trains. And always he did it in character, playing a solemn and thoughtful man who trusts in his own ingenuity." Roger Ebert
#54 - O Nascimento de uma Nação

O Nascimento de uma Nação
The Birth of a Nation
EUA, 1915
Dir.: D. W. Griffith
"He achieved what no other known man has achieved. To watch his work is like being witness to the beginning of melody, or the first conscious use of the lever or the wheel; the emergence, coordination and first eloquence of language; the birth of an art: and to realize that this is all the work of one man." James Agee
#55 - Os Sete Samurais

Os Sete Samurais
Shichinin no Samurai
Japão, 1954
Dir.: Akira Kurosawa
"The film’s length works in its favor in ways both big and small: It allows the samurai leader, whose head is shaved in an opening scene, to gradually grow his hair back. It allows the eternally uneasy bond between the samurai and the villagers, as well as the villagers’ martial confidence, to believably grow over time. It also allows us to observe each of Seven Samurai’s many characters in the round, from every angle, to view them as individuals with their own back stories, philosophies, martial-arts skills, and reasons for being there. We get to know them naturally, the way we get to know our friends: by putting in the time. We get to experience the emotional arc of the youngest samurai and to understand where the fury of Toshiro Mifune’s ragtag battler Kikuchiyo comes from. When the bandits finally do attack, our hearts are in our throats—we know the defenders so well, and we can sense that not everyone will survive. The passage of time has one final advantage: it reflects the entirety of the agricultural year, from planting to gorgeous blossoming to final harvesting. That’s critical, because the film’s final message is to reinforce the endurance of this kind of life, its toils and struggles. “In the end, we’ve lost this battle too,” one of the survivors says. “The victory belongs to those peasants, not to us.” By showing us nature’s passage as well, Kurosawa ensures that this message comes through loud and clear." Kenneth Turan
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
Sobre o tempo
Wilson Martins, em Imagens da França
domingo, fevereiro 11, 2007
#56 - O Leopardo

“Visconti imprimiu a O Leopardo um tom menos amargurado que aquele presente no romance original de Giuseppe di Lampedusa. Com uma visão desapaixonada da história e de sua própria vida, o príncipe Fabrizio (Burt Lancaster) vai da constatação de que sua estirpe está condenada aos esforços práticos para que ela sobreviva parcialmente. Sua meta é facilitar o casamento de seu sobrinho favorito, Tancredi (Alain Delon), com Angelica (Claudia Cardinale), filha de um burguês rico – um plano que ele segue com brilhantismo e não pouca admiração pela vitalidade e beleza resplandecente de Angelica, tão diversa da apatia e macilência de suas próprias filhas. (...) Reapreciado a distância, com todas as suas três horas de duração e seus cenários e figurinos magníficos, o filme irmana Visconti com Lampedusa, bem mais do que com seus pares políticos. Ainda que a descendência do príncipe deixe a desejar, ele próprio é o auge da espécie – culto, vigoroso, inteligente, astuto, ciente do passado e presciente acerca do futuro. Sua investida na aliança entre seu sobrinho e a burguesa é benigna, e é notável a delicadeza com que ele se deixa usar por Angelica, dançando com ela na famosa cena do baile para consagrar publicamente sua ascensão social. Mas que não reste dúvida: é o príncipe que dá as cartas aqui, e seu espírito é o que merece sobreviver. Certo estava o americano Burt Lancaster, que depois de muito procurar um modelo no qual calcar os maneirismos do príncipe Fabrizio se deu conta de que ele estava ali, bem à sua frente – o próprio Luchino Visconti, que deixou em O Leopardo uma espécie de carta de amor a si mesmo.” Isabela Boscov
#57 - Inocência

#58 - Marcha Nupcial

#59 - O Apóstolo

"The Apostle' has become something of a legend in independent film circles, because Duvall was so long in getting the movie made. The major studios turned him down (of course; it's about something, which scares them). So did old associates who had always promised help, but didn't return his calls on this project. As he waited, Duvall must have rewritten the script many times, because it is astonishingly subtle. There isn't a canned and prefab story arc, with predictable stops along the way. Instead, the movie feels as alive as if it's a documentary of things happening right now. (...) Many of his scenes develop naturally, instead of along the lines of obligatory cliches. A confrontation with his wife, for example, doesn't end as we think it might. And a face-down with a redneck racist develops along completely unexpected lines. The Apostle E. F. is not easy to read; Duvall's screenplay does what great screenwriting is supposed to do, and surprises us with additional observations and revelations in every scene. Perhaps it's not unexpected that Duvall had to write, direct and star in this film, and round up the financing himself. There aren't that many people in the film industry gifted enough to make such a film, and fewer still with the courage to deal honestly with a subject both spiritual and complex. (...) The Apostle is like a lesson in how movies can escape from convention and penetrate the hearts of rare characters." Roger Ebert
#60 - O Poderoso Chefão 2

"Coppola's superior sequel to his own very fine Mafia epic extends the original film's timeframe both backwards (to Vito Corleone's arrival and struggles to get by in New York at the start of the 20th century) and forwards (to his son Michael's ruthless protection of his own power as capo during a post-war period of expanded influence into Vegas, Cuba and elsewhere). The two strands alternate in Coppola's elliptical and elegantly orchestrated narrative, so that the seemingly inexorable progress from petty to corporate crime, from survival instinct to a steely obsession with power for power's sake, is charted with a terrifying lucidity. True, the film is so entranced by the dynastic dazzle that it neglects to show the Mob's baleful influence on America at large - the only people visibly harmed are either rival mafiosi or corrupt authority figures - but the performances, Gordon Willis' memorably gloomy camerawork, the stately pace and the sheer scale of the story's sweep render everything engrossing and so, well, plausible that our ideas of organised crime in America will forever be marked by this movie." Time Out
#61 - Um Dia Muito Especial

"Este filme de 1977 é um exemplo de como o cineasta trabalha a perspectiva da História: no dia mais importante para o Fascismo italiano, a visita de Hitler a Mussolini em Roma, uma dona-de-casa e um homossexual ficam sozinhos num prédio de classe média. Nenhum dos dois foi convidado para a festa do poder. Ficam sozinhos, basicamente conversando – mas não só. Como nas melhores peças de Thecov, Ettore Scola filma o nada. Sophia Loren conserta a meia, toma café frio de uma mistura de todas as xícaras da mesa. Está tão cansada de preparar o café dos filhos e do marido que não tem forças de levantar para esquentar o café. Este gesto define Antonnieta e sua historicidade, e o que há de mais humano e apaixonante nesta historicidade. Antonnieta é submissa mas não sabe que é. Esta é uma história sobre várias coisas, mas entre elas, é a descoberta de uma mulher de que seu mundo tão restrito e tão conhecido pode ser pequeno para ela. É o retrato de um momento, um dia especial em uma vida tão ordinária." Fernando Américo
#62 - Técnica de um Delator

"Le doulos is a deeply affecting work, full of embittered sorrow and a sense of regret. Typical of noir, its visual form, outstanding, often involves underlit interiors or some intrusion of light into utter darkness - the collision of small light and vast dark along the metaphysical line where life passes over: flashlights illuminating stretches of interior space; street lamps seemingly exhaling tenuous breath. Nothing is quite clear, in an atmosphere of suspiciousness, betrayal and ever possible betrayal: an evocation of the Occupation, to be sure, but also a description of its legacy: France, coping with her memory." Dennis Grunes
sábado, fevereiro 10, 2007
#63 - O Professor Aloprado

"To note that the films of Jerry Lewis are a rich, pleasurable and endlessly fascinating meditation on their medium is to say little. With Lewis, it's necessary to specify which medium. Film, of course; but this is a medium that Lewis' work has changed and redefined – through such inventions as the video assist, which he introduced in 1960, and through the inventions of sound, image and performance that proliferate in his films. Then there's the medium of selfhood; and as Lewis' selfhood is public, intensely so, as well as private, his films meditate deeply on (and through) celebrity. He himself is a medium, a total one, to borrow the adjective he placed so significantly in the title of his book The Total Film-Maker, and no director has done more than Jerry Lewis to exploit the meaningful possibilities of that medium, [and] The Nutty Professor clearly deserves its central place in the Lewis canon." Chris Fujiwara
#64 - Os Brutos Também Amam

"Shane is painted in broad strokes, but the picture is vivid. Alan Ladd stars as the title character, a mysterious drifter who signs on as ranch hand for Joe Starrett (Van Heflin) a put-upon homesteader who’s being harassed by Mr. Ryker (Emile Meyer), an evil, land-grubbing cattle baron. When Shane’s quietly intimidating presence drives Ryker’s men away from the homestead, the drifter becomes a hero to Starrett’s young son, Joey (Brandon De Wilde). It’s soon evident that Shane is a former gunslinger who’s trying to reform, but the battle for possession of Ryker’s land leads to a series of showdowns with Starrett’s men, including a menacing, steely-eyed killer famously played by Jack Palance with a minimum of dialogue. Stevens explores the key myths of the West while keeping the film emotionally grounded via the youngster who adores Shane’s quiet masculinity. Whether you buy all of it or not, Shane is the real McCoy- a powerful cinematic myth with a stoic hero at its center who simply wants to do the right thing." Paul Tatara
#65 - A Malvada

"Vinte anos antes da entrada em cena de Rainer Werner Fassbinder, Mankiewicz, em A Malvada, já trata da necessidade patológica por relacionamentos, visto que compreende o qual impossível se constitui a vida fora do meio social. Não há liberdade, somente o desespero absoluto das tentativas, mesmo que os personagens estejam a par da inútil empreitada. No cinema do irmão caçula de Herman J. Mankiewicz (co-roteirista de Cidadão Kane), os atores estão conscientes dos papéis que assumem – a mise en scène triunfal da rainha do Egito apara entrar em Roma no épico Cleópatra, o amante que se fantasia de policial para se vingar do marido traído em Jogo Mortal, os três casais em dúvida quanto à fidelidade do cônjuge em Quem É o Infiel. Em A Malvada, além de Addison De Witt, a única que duvida de imediato das intenções de Eve é Birdie Coonan: outrora atriz principal, Birdie, agora camareira de Margo, sabe como ninguém a amargura e o desengano de estar no final da cadeia produtiva, quando a mercadoria, depois de nascer com Eve e amadurecer com Margo, finalmente morre. Sem antes, contudo, renascer com a fã multiplicada em frente ao espelho." Paulo Ricardo de Almeida
domingo, fevereiro 04, 2007
#66 - Minha Secretária

#67 - Dois Destinos

#68 - O Desespero de Veronika Voss

"Se O Desespero de Veronika Voss não é “apenas” um filme sobre um mal-estar generalizado acerca do mundo, do amor, das relações humanas, etc., mas o grande monumento que é, é porque desde o começo o filme nos instala numa atmosfera nebulosa, em que todos os elementos sugerem que o mundo está fora de seus gonzos, num pesadelo ou num universo paralelo. É o que nos sugere o caráter bigger than life da personagem da atriz Veronika Voss, mas também o terrível complô orquestrado pelos médicos para viciar seus pacientes em morfina e tomar-lhes o dinheiro. Mas, acima de tudo, é o que nos apresenta a majestosa mise-en-scène do filme, volta e meia nos apresentando as imagens através de espelhos, de vidros enfumaçados ou molhados que tornam a cena diáfana, ângulos de câmera inclinados que dão estranheza à imagem, além, claro, do já mencionado poder do branco que parece tudo sufocar (sobretudo nos interiores do casarão da Dra. Marianne, em que naturalmente a opressão é maior), criando um clima ao mesmo tempo muito charmoso (mesmo rarefeitas, as imagens do diretor de fotografia Xaver Schwarzenberger são de uma beleza extraordinária) e decadente (afinal, todo maneirismo é decadentista e coloca o “mundo” em parênteses). Melodrama? Cinema moderno? Fassbinder parece ter sido o único diretor de cinema no mundo a aproveitar todas as potências anti-realistas e extravagantes do melodrama e fazê-lo romper o limiar da representação clássica. O Desespero de Veronika Voss, filiado ao gênero e longe dele, se utilizando tanto de formas convencionais como de formas modernas, naturalista e anti-realista, leva o aparente paradoxo um grau adiante." Ruy Gardnier
#69 - Noite Vazia
